O Vaticano acolhe o primeiro Jubileu temático do Ano Santo, reunindo cerca de 9 mil comunicadores de 138 países, incluindo uma delegação portuguesa com cerca de 40 participantes. Este evento celebra o papel essencial da comunicação na construção de uma sociedade mais justa e solidária.
Na Sala Paulo VI, o Papa Francisco preferiu improvisar as suas palavras, deixando de lado o discurso oficial de nove páginas. “Comunicar é sair de nós mesmos para dar algo ao outro. É encontro. Comunicar é divino. O vosso trabalho constrói a sociedade, a Igreja, desde que seja feito com verdade. Obrigado pelo que fazem”, afirmou o Pontífice, que concluiu com uma bênção e saudou pessoalmente alguns dos presentes.
Francisco também sublinhou, numa mensagem entregue ao prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, a importância de garantir a liberdade de imprensa e o papel fundamental dos jornalistas como “guardiões da verdade e da esperança”. O Papa destacou ainda a responsabilidade de uma comunicação que acende a esperança, mesmo em contextos difíceis, apelando a que se conte o bem, mesmo onde parece prevalecer o mal.
Maria Ressa: “A tecnologia recompensa a mentira”
A jornalista filipina Maria Ressa, Nobel da Paz e diretora da plataforma ‘Rappler’, foi uma das vozes mais marcantes do Jubileu. No Auditório Paulo VI, denunciou o papel das grandes empresas tecnológicas que, segundo ela, transformaram as redes sociais em “armas de engenharia comportamental em massa”. “Sem factos, não se pode ter verdade; sem verdade, não se pode ter confiança”, afirmou.

Ressa destacou como as narrativas de “medo, raiva e ódio” são amplificadas pelos algoritmos, apelando a um compromisso dos comunicadores com a defesa da verdade. A sua intervenção, aplaudida de pé, incluiu quatro apelos: colaborar, falar com clareza, proteger os mais vulneráveis e reconhecer o poder da comunicação. “A esperança não é passiva; é ativa, incansável e estratégica”, concluiu.
“Contar histórias pode mudar o curso da história”
O escritor irlandês Colum McCann, cofundador da rede ‘Narrative 4’, alertou para a “epidemia de solidão e isolamento” que marca o mundo atual. “O medo vende, mas negar a história do outro é negar a sua existência”, afirmou. McCann partilhou o exemplo de dois pais, um israelita e outro palestiniano, que, apesar de terem perdido as suas filhas no conflito, tornaram-se “peregrinos de esperança”, mostrando que é possível encontrar entendimento e comunhão.
Peregrinação à Porta Santa

O Jubileu teve um momento especial logo pela madrugada, quando os comunicadores participaram numa peregrinação à Porta Santa da Basílica de São Pedro, atravessando a Avenida da Conciliação. Este momento foi presidido por D. Nuno Brás, presidente da Comissão Episcopal das Comunicações Sociais de Portugal.
Um apelo à comunicação humana
Ainda na Aula Paulo VI, Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação, inaugurou o encontro com um apelo à comunicação “entre pessoas, e não entre máquinas”, num mundo marcado pela desinformação e pelos conflitos. Sublinhou a necessidade de partilhar histórias que unam, construam pontes e ajudem a enfrentar os desafios globais com verdade e esperança.
O Jubileu do Mundo da Comunicação sublinhou, assim, a missão essencial da comunicação como instrumento de encontro, verdade e esperança, num evento que reforçou o compromisso ético e humano dos profissionais de todo o mundo.
Este Domingo, 26 de janeiro, os comunicadores de todo o mundo vão participar ainda na Missa com o Papa Francisco, na Basílica de São Pedro, para celebrar o Domingo da Palavra.
Pe. Nuno Rosário Fernandes, em Roma